Somos um país de analfabetos financeiros? - Família Previdência

Somos um país de analfabetos financeiros?

Preparamos um super artigo e, ao final, um teste para você saber qual seu nível de alfabetização financeira. Confira!

Postado em: 26/09/2018

Recentemente, um dos economistas e editores de economia mais respeitados do país escreveu, em revista de grande circulação, que o Brasil é um país de analfabetos financeiros. Segundo Ricardo Amorim, que também é apresentador do programa Manhattan Connection, do canal Globo News, “em um país com tantos analfabetos funcionais, o analfabetismo financeiro não surpreende”, pois “cultura cigana e química orgânica fazem parte do currículo escolar obrigatório; finanças básicas, não”.

Amorim apresentou em seu artigo os resultados mundiais do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e aplicado a jovens de 15 anos em 15 países, e que, segundo o autor, revela que “os brasileiros são os mais ignorantes em finanças”. Para ele, assim “é fácil compreender como tanta gente assume dívidas impagáveis, comprometendo seu futuro financeiro”.

Nós, do Família Previdência, achamos este artigo bastante instigante e oportuno para irmos mais a fundo no tema. Afinal, somos mesmo um país de analfabetos financeiros?

 

Cultura financeira do brasileiro

Quando somos criança, vamos à escola para aprender a ler e escrever, entre outras coisas. Nossos pais nos ensinam a andar de bicicleta, jogar futebol, nadar e um monte de outras atividades. Mas alguém nos ensina a lidar com o dinheiro? Aí nós crescemos, começamos a fazer nossas próprias finanças e seguimos adiante sem nenhuma orientação formal de como utilizar os benefícios do dinheiro e evitar seus malefícios.

Em geral, o que nos transmitem é o que conseguimos apreender observando, a cultura da lida com o dinheiro de cada família. Em famílias onde a cultura do dinheiro é mais avançada, a criança aprende mais. Mas, na maioria das famílias brasileiras, a cultura do dinheiro que sempre esteve presente dentro de casa é a do “deixa a vida me levar”. E é justamente esta cultura que apreendemos. É dessa forma que aprendemos a lidar com o dinheiro.

 

Cultura da inflação e desconfiança

A cultura que nossos pais têm do dinheiro é de uma época em que a inflação corroía tudo, e era preciso consumir rápido todo o salário que ganhavam, pois o dinheiro perdia o valor muito depressa. Poupar não era uma opção segura, pois, por mais que repusesse o dinheiro perdido com a inflação, podia vir um governo e tomar tudo que guardavam.

Mesmo depois (ou agora), com a inflação controlada e com mais independência do sistema financeiro em relação aos governos, com a cultura do crédito fácil vemos nossos pais – e nós mesmos replicamos – entrar numa loja sem dinheiro e sair com um carro zero km parcelado em 60 vezes, todo sorridente, pensando ter feito um ótimo negócio pois o valor da prestação cabe no orçamento, sem prestar atenção ao valor final da compra.

 

Educação financeira no Brasil

Já sei: você está se perguntando o que tem de errado em comprar um carro zero se as prestações cabem no orçamento, não é? Viu como a cultura financeira errada influencia até na maneira como você lê este artigo? E mudar uma cultura tão enraizada, ainda mais num país tão grande e com tantas diferenças regionais, não é coisa fácil. Muito menos rápida. É aí que entra a importância da educação financeira.

Outro artigo sobre o tema, não assinado, postado no blog da Par Mais Empoderamento Financeiro, afirma que “no Brasil, não possuímos educação financeira nas escolas, por isso, as pessoas costumam especializar-se em diversas áreas profissionais, mas não sabem como administrar o próprio dinheiro”. Assim, nós, brasileiros, continuamos replicando comportamentos financeiros que trazem consequências catastróficas, individuais e sociais, não apenas no presente, mas principalmente a longo prazo.

Uma ferramenta para mudar a cultura

A educação financeira é, então, a única ferramenta capaz de nos ajudar nessa mudança de cultura, auxiliando milhões de brasileiros a controlar melhor seu dinheiro e não apenas serem controlados por ele (ou pela falta dele). É fundamental para o desenvolvimento de uma nova relação com o dinheiro.

Perceba que estamos falando recém em educação financeira, fundamental para que o brasileiro entenda e saiba lidar com o dinheiro hoje. Ainda não mencionamos um segundo passo tão importante quanto a educação financeira, que é a educação previdenciária, quando o brasileiro vai aprender a lidar com o dinheiro a longo prazo. Embora o Brasil tenha evoluído bastante nesta questão, ainda estamos engatinhando. A educação financeira é, portanto, a base desse segundo passo.

A educação financeira é o caminho pelo qual deixaremos de ser um país de endividados e passaremos a ser um país de realizadores de sonhos. E a previdência privada é o veículo realizador desses sonhos.

Como se comporta um analfabeto financeiro?

O objetivo aqui não é sair por aí identificando um analfabeto financeiro em cada esquina. É olhar para dentro, entender de si e verificar se nos comportamos como analfabetos financeiros. Caso você não controle seus ganhos e gastos, você tem grandes chances de ser um.
Em geral, algumas características são comuns no comportamento do analfabeto financeiro. São elas:
Não possui controle das receitas ou das despesas. Em geral, de ambas. Assim, não sabem quanto gastam por mês e, na maioria das vezes, nem o quanto ganham.
Não possui uma reserva financeira de segurança para imprevistos como doenças ou reformas.
Considera o limite do cheque especial e do cartão de crédito como complemento da sua renda.
Consome por impulso e sem consciência da real necessidade do que está consumindo. Muitas vezes, consome sequer sem ter condições de adquirir o produto ou utilizando cheque especial ou cartão de crédito.
- É imediatista: não consegue estabelecer planos a médio prazo. A longo prazo, então, nem pensar.
- Compra sempre a prazo sem prestar atenção aos juros e sem calcular o quanto está pagando de fato no produto, preocupando-se apenas se a prestação cabe no orçamento.
Muitas vezes, compra para depois ver se vai conseguir pagar.
Prefere a zona de conforto: não quer nem saber o quanto paga de juros para não se sentir desconfortável.
Em consequência desse comportamento, se endivida e acaba pagando ainda mais juros de cheque especial e cartão de crédito.
Não lê, estuda ou se informa sobre educação financeira.

 

Quais são as consequências do analfabetismo financeiro?

A consequência mais visível do analfabetismo financeiro é o endividamento. 58,6% das famílias brasileiras possuem dívidas, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Das 18 mil pessoas ouvidas na pesquisa, 13,4% declararam estar muito endividadas. 20,2% das pessoas endividadas declararam ter mais da metade da sua renda comprometida com o pagamento das dívidas. 23,7% das famílias possuem dívidas e contas em atraso. A maior parte das dívidas é no cartão de crédito.

Outra consequência é a priorização do imediato, não pensar no futuro e confiar piamente que a Previdência Social vai nos garantir o sustento necessário na velhice. Ao não começar “ontem” uma poupança previdenciária particular que garanta o custeio pós-período laboral, adiamos cada vez mais nossa saída do mercado de trabalho, pois muitos dos idosos que se aposentam necessitam seguir trabalhando, muitas vezes em bicos e serviços informais, para garantir a sobrevivência.

 

Consequências sociais

Veja que até aqui falamos nas consequências palpáveis do analfabetismo financeiro, aquelas que hoje ou amanhã acabam por doer no bolso. Em uma visão mais ampla, poderíamos incluir nessas consequências os índices de suicídios por parte de quem não consegue saldar suas dívidas, os gastos com remédios para depressão, para dormir, entre outras consequências à saúde das pessoas.

E a segurança pública? Se tivéssemos educação financeira e, portanto, menos endividados, é possível que também tivéssemos menos violência urbana, uma vez que grande parte da violência gira em torno da obtenção de lucro, seja no roubo de veículos, de celulares ou de dinheiro em espécie.

Mas isso é apenas um exercício de pensamento, uma vez que, infelizmente, não existem ainda estudos sobre essa relação finanças/segurança que possamos confiar.

Mas imagine, então, que o Brasil poderia economizar em saúde e segurança se investisse em educação financeira. Não seria muito melhor?

 

Como vencer o analfabetismo financeiro?

Talvez você pense que uma pessoa educada financeiramente é aquele economista que sabe aplicar em ações ou que fica o dia inteiro se atualizando em sites de economia. Saiba que educação financeira é muito mais simples do que isso. Você não precisa ser economista, basta ter vontade de aprender e se dispor a ser disciplinado.

Lembre-se: no Brasil, não possuímos educação financeira nas escolas e, pelo visto, vai demorar para que tenhamos. Então, faça sua parte: aprenda sobre o tema e compartilhe esse conhecimento com sua família e amigos. Não se preocupe, você não vai ficar conhecido como o mão-de-vaca. Assim que seus resultados começarem a aparecer, todos vão querer saber o seu segredo.

 

Veja algumas dicas

  • Faça uma previsão de receitas e despesas de pelo menos doze meses.
  • Faça um controle do que você ganha e gasta. Anote todas suas receitas e despesas.
  • Gaste menos do que ganha. Não importa o que aconteça, não utilize o cheque especial ou o cartão de crédito para nada que seja realmente necessário e urgente. Se o necessário não for urgente, espere para comprar quando tiver dinheiro.
  • Pague suas contas em dia. Sempre que possível, peça desconto por pagar à vista.
  • Caso tenha dívidas, faça um planejamento para eliminá-las. Inclua este planejamento no seu controle de previsão de receitas e de despesas.
  • Planeje suas compras, não consuma por impulso e não desperdice seu dinheiro.
  • Vá ao supermercado somente após as refeições.
  • Passe a guardar uma parte do seu dinheiro e constitua uma reserva de segurança.
  • Pense no futuro. Um dia, suas receitas param de entrar e você vai viver do INSS? Comece uma previdência privada, mesmo com pouco por mês.
  • Leia sobre o assunto sem o preconceito de que falar de dinheiro é “chato”.

 

Veja se você é um analfabeto financeiro.

Agora que você já sabe o que é um analfabeto financeiro, sabe a cultura financeira do brasileiro, e sabe como vencer o analfabetismo financeiro, que tal saber se você mesmo é ou não é um analfabeto financeiro?

Não se preocupe, o objetivo aqui não é deixar você constrangido, mas sim oferecer a você uma ferramenta prática para o seu autoconhecimento financeiro. Neste teste, criado pela Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), você terá uma pequena noção de como lidar com o seu dinheiro. Faça o teste, é rápido e fácil.

@1 – Como está a sua situação financeira atualmente?
a. Estou em uma situação de investidor, investindo dinheiro mensalmente;
b. Estou equilibrado mensalmente, alguns meses sobram, mas, em outros, faltam;
c. Infelizmente, estou com algumas dívidas com as quais não consigo arcar.

@2 – Quando você recebe o seu salário, qual é a primeira coisa que faz?
a. Separo imediatamente uma parte para os meus sonhos e objetivos e adapto o meu padrão de vida ao que restar;
b. Pago todas as contas do mês e me programo para que sobre. Às vezes, dá certo;
c. Saio para curtir um pouco, pois trabalhei o mês inteiro e tenho que comemorar, depois me preocupo com o resto do mês.

@3 – Quando necessita comprar algo com um valor um pouco maior, qual a sua estratégia?
a. Planejo-me com antecedência e sempre consigo comprar à vista e com descontos;
b. Geralmente, já tenho uma parte para dar de entrada e o restante parcelo de uma forma que caiba em meu orçamento;
c. Busco parcelar e dou um jeito de pagar mais essa conta mensalmente. Sempre dá para dar um jeitinho.

@4 – Ao se deparar com uma superpromoção em uma de suas lojas preferidas, qual a sua reação?
a. Busco ver se realmente necessito do produto em promoção e se está em meu orçamento; se sim, ainda avalio se realmente a promoção é interessante;
b. Se a promoção for realmente boa e tiver algo que necessito, com certeza irei aproveitar;
c. Promoções são ótimas oportunidades de compra, então, aproveito e compro o máximo que posso, pois não sei quando terei novamente essa oportunidade.

@5 – Sobre os seus familiares, como se dá a relação com o dinheiro?
a. Sempre conversamos sobre dinheiro, estabelecendo os objetivos e sonhos em conjunto e individuais e planejando para isso;
b. Tem uma pessoa que é a responsável pela administração das finanças e que passa as diretrizes de gastos mensais para todos;
c. Quase não existe controle nem debate sobre o assunto, só quando a situação aperta, fora isso, vamos nos adequando e vivendo.

@6 – O que é para você a aposentadoria sustentável?
a. É o período em que não terei mais a necessidade de trabalhar e terei dinheiro suficiente investido para manter o meu padrão de vida atual;
b. Sei que terei que readequar o meu padrão de vida para esse período, pois haverá uma queda de rendimento, e já me preocupo com isso;
c. Ainda não parei para pensar sobre o tema, já que está muito distante e tenho muito para aproveitar a vida.

@7 – Qual a sua relação com o pagamento de cartão de crédito?
a. É uma ferramenta bastante interessante, que auxilia nas compras em caso de necessidade e ainda possibilita outros benefícios, como pontos de fidelidade;
b. Utilizo para conseguir comprar ou parcelar coisas que necessito quando não possuo dinheiro, pois poderei pagar apenas no próximo mês;
c. Utilizo bastante o cartão de crédito, contudo, na hora de pagar, tenho dificuldade e, muitas vezes, não consigo pagar em sua totalidade.

@8 – Em caso de endividamento, em função de um imprevisto, qual seria a ação a ser tomada?
a. Antes de sair pagando as dívidas, busco saber o que me levou a esta situação, trabalhando a causa do problema e não o efeito;
b. Em primeiro lugar, busco estabelecer uma estratégia para pagar a dívida, cortando o que for possível;
c. Entro em desespero, pois não sei como fazer para arcar com o endividamento e busco ajuda com parentes e amigos.

@9 – Como você faz o controle de suas finanças?
a. Periodicamente, faço um levantamento de todos os meus gastos para que possa saber para onde está indo meu dinheiro e onde estão os excessos;
b. Faço este levantamento ininterruptamente, todos os dias, pois não se pode bobear quando o tema é dinheiro;
c. Não faço esse tipo de levantamento, pois é coisa de gente bitolada em dinheiro.

@10 – Para você, qual a importância que o dinheiro deve ter para as pessoas?
a. Dinheiro é uma ferramenta imprescindível para a realização de sonhos materiais e não materiais;
b. É uma necessidade básica das pessoas, para que, com ele, possa ser feliz e comprar o que quiser;
c. Dinheiro foi criado para ser gasto, assim, quanto mais se ganha, mais se deve gastar.

@Peso das respostas:
a)10
b)5
c)0

 

Resultados:

1) De 70 a 100 pontos
Você é educado financeiramente – Sabe a importância do dinheiro e a maneira correta de usá-lo e também tem em mente a importância de passar esse conhecimento à frente. O mais importante é que entende que o tema é uma questão comportamental, não se relacionando apenas com números.

2) De 45 a 65 pontos
Você está no caminho da educação financeira, mas, cuidado – Sua situação não é confortável, pois, por mais que ache que já lida bem com o dinheiro, você ainda possui vários conceitos e ações errados sobre o tema. Você tem que pôr em mente que dinheiro não é fim, mas sim o meio para a realização de desejos e sonhos, pessoais e familiares.

3) De 00 a 40 pontos
Você é analfabeto financeiramente – Ligue imediatamente o sinal de alerta e busque conhecimentos, senão, sua vida financeira estará fadada ao fracasso, se é que já não está. Tenha em mente que, por mais que não dê a importância devida ao dinheiro, ele está aí e é necessário para que se possa sobreviver no mundo em que vivemos.

Ufa. Esse assunto deu pano pra manga, não é? O artigo ficou mais extenso que prevíamos, mas todas as informações são fundamentais para a educação financeira dos brasileiros. Afinal, somos mesmo um país de analfabetos financeiros? Deixe seu comentário e interaja com a gente.


COMECE A SIMULAR O SEU PLANO